sexta-feira, janeiro 06, 2006





































Fechei uma caixa de vidro no caminho que ainda percorro, dizendo, como antes, que é condição de sobrevivência e tranquilidade fechar o sentir passado em caixas de vidro.
Soltei as cordas que me prendiam a esse cubo cristalino e me emaranhavam a uma talhada de vida que afinal já tinha passado.
Tapei as frinchas desse contentor de memória com matéria hermética (cera que Ulisses me emprestou) para que não houvessem fugas de um murmúrio que fosse, esse engano, canto de sereia.

- “I’m fixing a hole where the wind gets in and stops my mind from wandering” *

Já te vejo longe e o que passámos são já somente cores e sombras indistintas e aformes. São belas essas cores mas já não têm forma, já não têm sabor a linguagem, já não me falam: fazem-me sorrir discretamente como quem se lembra de um biscoito na infância. Apenas…
O nosso respirar trôpego e emocionado nessa parte passada da vida vai-se encarregando de embaciar o vidro e a memória de uma paixão torna-se isso mesmo: um contentor de vidro embaciado atracado à beira vida, à margem de um percurso que afinal é meu.
Apesar de tudo um cubo. Uma forma simples que me permite, e essa é a minha panaceia, distanciar-me daquilo que passou e marcar metros cada vez mais tranquilos, medindo a minha cura.
Poder estar cada vez mais longe de ti…

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