
[Egon Schiele_Nú]
...
Era como se te sentisse. Que estranho ter o sabor da tua boca e não saber o teu nome. A pouco, átomo a átomo, vais renascendo, figura que me acompanhou tanto tempo.
Antes foste morta pela imanência da realização, foste feito da forma das coisas do mundo real e depois morreste porque foste feita em carne. E essa carne morreu depois. Deixei que apodrecesse colada ao meu corpo, com raízes por dentro dos meus poros e o sangue coagulado cegando os meus olhos. E uma infinidade de plaquetas mortas que só sabiam dizer um nome que já não é: de inominável faço-te anominável: mecanismo de sobrevivencia.
Sacudi esse manto podre, essa segunda epiderme que me abafava e fiz-te etérea novamente: já não és carne ou substantivo, és devir, verbo por acontecer: mulher desejo.
Posso finalmente reproduzir o sabor de lábios oníricos, refazer tantas caras impossíveis e dialogar com a mesma matéria de que sou feito hoje: desejo puro, envenenado por um mundo desajustado.
3 comentários:
Durante algum tempo decidi manter-me à margem. Fazias-me mal, com essa tua maneira de ser. Hoje em dia sinto cada vez mais a tua falta. Daquilo que tivemos, do que temos e do que poderíamos ter. Pelo menos, uma bela amizade...
Há um tempo atrás, tive curiosidade, e misturada com as saudades visitei-te. Comecei a acompanhar a tua dor, provocada por alguém que eu não conheço.
Não sei se ela merece essa dor, mas sei de certeza que provavelmente tu precisas de alguém que te faça realmente sofrer. Pelo menos da forma como me fizeste sofrer.
Não sei também o que me fez escrever-te. Prefiro permanecer assim, distante, a ver-te evoluir, crescer... É verdade, quando é que cresces mesmo? Mas gosto de te ler.
Estas modernas tecnologias são boas. Fazem com que nós possamos expiar os nossos pecados sem nos identificarmos. Não o vou fazer, porque também não te interessa. Se interessasse realmente, provavelmente não teria escrito o que escrevi, tu não terias escrito o que escreveste e nada disto faria sentido...
Tem tudo a ver com as questões geométricas a que te referias num dos teus dias de inspiração. Foste a minha musa inspiradora durante um tempo. Bem, esta minha frase deixou-me a pensar e a rir simultaneamente. Será que "musa" se poderá aplicar no masculino? Não sei... Não creio que alguma vez tivesse sido a tua. Não que isso tenha alguma importância para mim nos dias que correm.
Mas gostaria imenso de saber se aquilo que sentiste por mim e que sentes habitualmente por qualquer uma das tuas "paixões" é realmente verdadeiro. Será? Ou será apenas uma forma de te amares, e de te concentrares apenas em ti, tal como tens feito, dia após dia e ano após ano?
Reflectindo-te nos outros (nas outras, mil perdões), vais-te amando muito e amargurando quando as coisas deixam de funcionar. Gostas da possibilidade de alguém te amar e de veres nos olhos de outrém que poderá ser amor aquilo que sente por ti. De vez em quando terminas os teus namoros e as tuas relações contigo próprio. Vem a desilusão e alguma dor. Quando é que este ciclo vicioso terminará? Quando o quebrares. Basta que o quebres e que abras verdadeiramente o teu coração a alguém que realmente o mereça.
Bom, deixo-te com a tua auto-comiseração. Mas continua a escrever; gosto muito de te ler.
perguntas que não sei a quem responder;
afirmações afiadíssimas:
o pior é que pode ser tudo verdade!
só não sei a quem responder
Fiquei um pouco feliz com a tua resposta. De facto, sempre dás a sensação de que não tratas todas as mulheres da tua vida da mesma forma, e que o significado que elas vão tendo é variável, dependendo... dependendo do quê?
O que fará realmente alguém como tu dar mais importância a esta ou àquela paixão?
Será que é de acordo com o trabalho que dão a conquistar? Pela empatia imediata? Pelo fulgor? Pela racionalidade absoluta e combinação dos intelectos? Ou por questões de pele?
E a resposta a todas estas questões dependem de quem EU sou? Duvido... dependem mais de quem TU és.
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