quarta-feira, novembro 08, 2006


















[Roy Lichtenstein]

...

O amor é a palavra mais fácil de mentir e catastroficamente a mais fácil de acreditar.
As grandes mentiras são assim, enormes, inauditas: o inacreditável é fundamentalmente o primeiro passo para a crença.
Súbito que o dizemos, assim sem hesitação, transforma-se na realidade incontornável.
É uma palavra tão forte que dita da primeira vez cria um novo estado das coisas, uma nova ordem e altera todo o conjunto das forças que regem a vida.
Dita pelos olhos, mesmo que não seja verdade, convence pelo incrível, suspende a descrença essa palavra maldita, ao ponto que, confrontado com a prova da mentira, recusámos ver a verdade.
A palavra amor nos olhos de alguém transforma-a em medusa e petrifica o outro.
Cuidado...
A medusa foi condenada à pedra pelo seu reflexo, e nós, ilusionistas do amor, cuidado com o amor escrito nos olhos dos outros.
Rapidamente, quando se cria uma mentira, somos apanhados pela sua força gravitacional e acabamos no centro dela, a viver a realidade inventada, com todo o peso da nossa existência.

2 comentários:

Anónimo disse...

If I Can't Feel Love


You tell me lately I've been changing
And I'm not the man you met
You say I'm distant and evasive
Like I'm hiding some regret

And you're going on and on, but you've got something wrong

'Cause if I can't feel love then why do I break
Whenever I see you smiling my way?
If I can't feel love and all that love is
And I'm lying then what are these tears?
If I can't feel love

I know sometimes I get caught up
In whatever's on my mind, yeah
But if I keep it all within me
I don't mean to be unkind
You know I don't, oh baby

So when it all gets out of hand, sweet darling
You must understand

That if I can't feel love I'd be wasting your time
And I couldn't live with all the guilt that I'd find
If I can't feel love when I look in your face
I'd be worthless, as empty as space

If I can't feel love

So anytime any day, sweet darling
Don't hesitate
Just talk to me and I'll make you see
All you gotta do is believe what I say, darling

'Cause if I can't feel love then why do I break
Whenever I see you and you're smiling my way?
If I can't feel love and all that love is
And I'm lying then what are these tears?
If I can't feel love
Oh, if I can't feel love

Anónimo disse...

O amor não é um sentimento fácil de fingir. Não se os nossos sentimentos nos forem relevantes. Não se o respeito pelos outros existe.

Mentir que se ama, é um passo para desrespeitar o outro e para se desrespeitar a si próprio. Por que razão se há-de lançar tal palavra ao ar, se não for sentida?

"Amo-te" são palavras difíceis de se pronunciar pela primeira vez. Mas essa pronunciação já estava no ar, já se sentia, já se cheirava, a pele já transpirava esse sentimento muito antes de ele ser confirmado em palavras. Quem realmente ama, sente-o em todo o corpo. Se for correspondido, sente-o no corpo do outro também.

O estremecimento do reencontro, a sofreguidão pelo calor e pela pele do outro... e o olhar não se disfarça nem se finge.

Quando se ama, o nosso olhar transmite essa mesma fogosidade e carinho e vontade de aproximação. Ou até mesmo a capacidade de ao longe estarmos a amar aquela pessoa, sem toque, sem cheiro, sem pele. Nem mesmo o maior actor consegue transmitir amor fingido só pelo olhar.

Essa mesma força gravitacional não é criada por uma palavra ou duas ou três... é criada pela intensidade do sentimento, pela sensação de fazer parte do outro e dele fazer parte de nós...

O que é reinventado quando se ama, é a nossa individualidade, porque deixa de existir na verdadeira acepção da palavra.

Quando se ama, há entrega total. A entrega dos corpos nus, a contemplarem-se, mas que o fazem mesmo que não tenham desejo sexual imediato.

O amor não é paixão carnal. É a passagem da paixão para um estádio em que a química se torna menos explosiva, e em que as reacções que ocorrem libertam menor quantidade de energia de imediato, mas que rentabilizam essa energia ao longo do dia, da semana, do mês...