domingo, dezembro 17, 2006






















[Lebbeus Woods]
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" - Vou sim. Eu já até que comecei. Matar não é querer dizer a gente pegar no revólver e fazer bum. Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando de querer bem. E um dia essa pessoa morreu."

in, O Meu Pé de Laranja Lima, José Mauro de Vasconcelos

E assim nos curamos. Matando no coração, criando o raciocínio redentor que nos faz deixar de querer bem. Deixaste-me por morto, jazendo imóvel na poça de lama da memória daquilo que já não é. O último a sair do lodo fá-lo com mais custo, mais dor e esforço. O último que se levanta carrega o peso da lama nas roupas e também, inevitávelmente, o cheiro de tudo o que já não é. Esse odor impregnado na carne é a recordação constante daquilo que caíu por terra: nós.

A limpeza dessa sujidade começa por esse matar no coração: construir e sustentar uma estrutura de razões para não te querer amar mais, uma estrutura de ódio, que se quer dia a dia mais alta.
Quando odiarmos a pessoa que nos deixou ali estendidos, podemos então, da estrutura que construímos para a matar dentro de nós, saltar para o resto da nossa vida...

E quem sabe até perdoar...

2 comentários:

Anónimo disse...

O maís custoso desse processo da estrutura do ódio é que não se pode passar sem ela... Talvez não seja ódio, mas nojo, ganhar nojo, enfado ao que se sentira uma vez.
E se sabemos, por certo, que, como das outras vezes, esse enfartamento chegará, porque não começar já? Essa é a questão mais difícil. O tal carrossel que queremos afastar é afinal o único ponto possível de onde recomeçar o caminho, sorte madrasta...

H.

Anónimo disse...

Alguém, de quem gostei realmente, iniciou um dia uma definição de hábitos…

“Hábitos – fanfarras estonteantes que se repetem no tempo; padrões de sentimentos a desenhar preconceitos nos subsolos da vida entendimento; paisagens de ver o que se quer ver; canalização de uma libido própria do olhar… “

Odiar, querer mal. Ainda é querer. A metamorfose não passa pela construção de estruturas assassinas. Essas derivam do querer.

Carregar “o cheiro de tudo o que já não é”. Talvez seja já um mero, mas difícil, hábito.

É um prazer ler-te. Tenho um trabalho de direito de autor para te enviar. Fico à espera da morada. Quando a receber saberei que me leste.