terça-feira, janeiro 16, 2007









[Robert Smithson - Leaning Strata]

Construção da desilusão…


Leio os ciclos que deixo registados, falaciosamente, para trás de mim: historicamente sou um construtor de desilusões.

O paradoxo, como eu, é construir tanta desilusão quando o projecto que desenhei rigorosamente era a ilusão…

Por mais que me avise, por mais notas que ponha no rodapé das minhas casas: nunca sou capaz de fugir ao meu destino histórico…

Cometo inevitavelmente o mesmo erro: querer!

Antítese de Afonso Domingues, sou o construtor inevitável das abóbodas impossíveis que têm de ruir por cima de mim...


2 comentários:

Anónimo disse...

Tens razão quando dizes que constróis desilusões... Mas quem disse que isso é mau... Desde que te conheci até este minuto tens me desiludido... A má imagem que tinha tua (ilusão) torna-se a cada dia o descobrir do ser maravilhoso que tu és... Não quero é que me voltes a desiludir :)

Anónimo disse...

Hoje acordei mal disposta, dorida, com a sensação de que a vida prega partidas, mais a mim do que aos outros. A ilusão de que tudo se passa a nossa volta e de que existe livre arbítrio torna-se em desilusão quando os resultados não são os esperados.

Para que viver com ilusões e desilusões? Para enriquecer a vida, para que haja variedade, mas acima de tudo para que sintamos que detemos algum controlo sobre o curso da vida.

E, no entanto, estamos cada vez mais seres individualizados, no meio de uma sociedade cada vez mais exigente e mais rápida e imediata. A tendência é que nos fechemos na nossa concha e não deixemos ninguém entrar, que construamos imagens alheias à realidade sobre os outros e que rapidamente nos desiludamos com eles.

Será que o segredo é abrir um rasgão na nossa concha e deixarmo-nos de ilusões e desilusões? Deixar outros entrarem na nossa concha e partilhar connosco a nossa realidade? Construir ilusões e desilusões conjuntas e partilhadas?

Não sei. Se soubesse a resposta a todas as perguntas, a vida não teria graça nem qualquer novidade para me oferecer e tornar-se-ia num paradoxo estar viva.

Prefiro continuar assim, com um pequeno rasgão na concha, a partilhar pequenos momentos com que quero e com quem quer entrar na minha concha, nem que seja por breves instantes, a iludir-me e desiludir-me com os outros e a não ter respostas para todas as questões que se me colocam.

Beijocas,

M.