sábado, fevereiro 10, 2007















[Le Corbusier - Modulor]

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Existem casas onde gostava de viver... Olho-a curioso de fora e admiro tudo nela: principalmente ser capaz de me ver lá dentro - confortavelmente.
Tem as janelas que enquadram a minha paisagem preferida: olham essas janelas exactamente para onde quereria olhar todos os despertares.
Tem a porta do tamanho de mim: inclusive trancar-se quando não quero sair de casa.

Eu sei que no dia que entrar nessa casa vai ser de visita: sempre foi assim porque deixo...
Eu sei que no dia que quisesse entrar numa dessas casas me informariam educadamente, ou não: esta casa já está ocupada - ou apalavrada que também já aconteceu...

Eu sei que a casa está cheia de manchas de humidade que posso pintar por cima, só para que re-apareçam mais tarde.

Eu sei que a casa tem fantasmas: e que vai sempre preferi-los a ser habitada por mim...

Tento deixar um pouco de mim, pó de epiderme: mas nem se chama memória porque se varre porta fora com um espanador.


Habitar é impossível porque a fealdade não cabe em sítio algum...

2 comentários:

Anónimo disse...

Pode ser que uma dessas casas esteja a espera do teu bater na porta, e que cubras suas paredes com novas cores de modo a que nunca relembrem a cor já apagada anterior... E os fantasmas?... Esses pertencem a casas tristes... Já não é essa? Já viste alguma casa nova com fantasmas?

Anónimo disse...

acho que os fantasmas podem ser boa companhia... quero estar sentada no sofá dessa tua casa, um dia, à espera que chegues, a fazer malha e a conversar com o fantasma de uma velha que lá viveu um dia e que me penteie com as suas mão engelhadas e macias, devagarinho, o cabelo despenteado... e depois tu hás de chegar, de mansinho, e abres a porta e vês que está lá alguém e eu explico que foi a velha que me abriu a porta e que estava à tua espera para ver se querias ir jantar a qualquer lado que hoje também não me apetece jantar sozinha e decidimos ficar e fazer o jantar mesmo por ali, tu pões o refogado ao lume e eu saio para ir comprar vinho, e o calor do fogão e da conversa secam as pareces das manchas de humidade...