Há quem ignore que o diálogo por terrorismo puro rapidamente cai no monólogo, na conversa solitária e umbilical. Largando faíscas críticas em todas as direcções, vendamos por vezes os próprios olhos e ignoramos que caem ao acaso e queimam casuisticamente. Começam a gritar em todas as direcções de cara tapada e acabam invariavelmente a falar para um vácuo sugador. Assim a crítica gutural se transforma num ruído abafadamente acrítico.
À crítica cabe também a responsabilidade que ela própria exige da criação e do objecto que visa. Como desculpa, derrapam no fácil lugar comum da expressão - crítica construtiva - que em verdade não passa senão de uma perniciosa demissão da responsabilidade pessoal e social do crítico.
Esta demissão torna-se ainda mais grave quando crítico é também um actor do sistema que critica sendo que a responsabilidade assume então duas faces. A primeira sobre o dever de uma visão estratégica e globalizadora e de uma crítica focalizada e bem direccionada. Uma denúncia eficaz construída sobre um somatório de juízos consistentes como um todo. A segunda parte precisamente do facto de ser actor, alguém que age, gesticula e se movimenta dentro da rede que critica, e aí temos que exigir duramente que a sua acção se reja pelos mesmíssimos princípios da sua visão crítica e não pelas regras pré-estabelecidas pelo “Status Quo”. Assim se exige, em própria defesa dos princípios que evoca, que aja segundo as regras que ele próprio estabeleceu. Compreenda assim que a verdadeira revolução abre-se e aceita as consequências e não grita para no momento seguinte se esconder. Levanta o estandarte e acima de tudo, assume-se como alternativa a qualquer coisa, tirando daí todas as consequências, de modo a manter a integridade intelectual, que é finalmente a sua última e fulcral credibilidade. Questiono-me sobre a higiene revolucionária de alguém que discursa o corte, mas que aja conforme a continuidade medíocre.
Ouvem-se as críticas ao longe, gritos longínquos, faltam os gestos largos e decididos e às palavras desordenadas que lançam à boca pequena falta o trabalho corajoso que ponha em causa o estado presente das coisas e provem do valor da nova necessidade. Nem que isso signifique a marginalidade ao sistema. Não verdadeira mudança sem sacrifício, nem se pode esperar o apoio da ordem estabelecida para essa mudança. A cada um cabe um seu papel muito próprio. E ao dos críticos ventosos falta agirem como advogam. Apetece citar livremente Sartre:
“ Odeio as vítimas que respeitam os seus opressores.”
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