São tão etéreas as ligações que nos unem às pessoas hoje em dia. Separamos o ser do estar num lugar, e somos em qualquer lugar fruto das protésicas tecnologias que estendem a nossa essência a todo o lugar. Separamo-nos quase de vez de um endereço e exercemos isso como uma liberdade, de poder chegar a qualquer lado. Deixamos de associar pessoas a lugares específicos e generalizamos a sua existência a ideias generalizadas de sítios, que muitas vezes não conhecemos. Eu acho, pese embora a liberdade que este fenómeno nos traz, que nos perdemos um pouco de nós e dos outros. Somos menos lugar e menos corpo, e acho que do lugar nos fazemos muito e se não o sentimos podemos ser menos, e conhecer menos aos outros. Sinto falta da estabilidade de saber lugares e pessoas de lugares, sinto-a. E quando sinto falta de uma pessoa, sinto que é essencialmente falta de uma relação espacial, verbal e carnal. Porque um email, um telefonema não mata saudades, anestesia, deixa em coma por um tempo, mas verdadeiramente não mata a falta de uma pessoa. A saudade é tão física como a cadeira em que me sento, e tem lugar no espaço onde vivo e pesa na carne e na alma.
E isto sinto tanto mais quando tento alcançar alguém com o longo braço artificial de uma nova tecnologia de comunicação e não a alcanço. porque nos olhos, no calor, em suma, na carne nervosamente ligada à alma está a verdade de estar com alguém.
Contemporaneamente no mesmo lugar...
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