quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Às vezes procuramos apenas uma forma de desfazermos um nó tremendo que demos em nós e mais alguém. Ficamos suspensos da tranquilidade, por uma corda que nos enforca. Nessa corda ainda resta a fuligem que prova que a corda foi enrolada pelas nossas próprias mãos negras e sujas. E vamos afogando segundo a segundo, cegos pela dor e pelo sangue lamacento que se acumula dentro de nós, com a força de querer sair e rebentar as nossas paredes de pele e terra. Raramente nesses momentos em que nos enforcamos conseguimos ver com clareza o que está à nossa volta, ou mesmo se há, vizinho a nós, um qualquer apoio para os nossos pés, por onde aliviar o peso de nós próprios. Porque quando nos enforcamos, morremos do peso da merda que somos, castigando-nos graviticamente até ao pecado final e fatal. E nesse processo vivemos dependurados, como se estivéssemos caindo num vórtice acelerado de degradação, tontos e confundidos, mas ao mesmo tempo seguros precariamente por um nó que, da sua parte nos mata também. E damos por nós pendurados para a morte, por cima de um precipício, pensando somente que isto é certo, e que a salvação de uma morte é a concretização de outra. Enforcados buscamos a libertação do nó e na queda desejamos o aperto do nó. E morremos totalmente pelos nossos erros, porque neste percurso o peso de um erro, é algebricamente maior que a vontade de querer ser bom. Uma pena corvina mais pesada que uma vida inteira. E desse peso insuportável podemos morrer, mas não sem antes cumprirmos sentença e o longo castigo de arrastarmos essas penas pela vida lembrando-nos sempre dos erros para trás e do peso de que nos carregamos.

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