terça-feira, agosto 16, 2005

Mia moglie e il mio naso

- Che fai? – mia moglie mi domandò, vedendomi insolitamente, indugiare davanti allo spechio.

- Niente, - le risposi, - mi guardo qua, dentro il naso, in questa narice. Premendo, avverto un certo dolorino.

Mia moglie sorrise e disse:

- Credevo ti guardassi da che parte ti pende.

Mi voltai come un cane a cui qualcuno avesse pestato la coda:

- Mi pende? A me? Il naso?

E mi moglie, placidamente:

- Ma si, caro. Guàrdatelo bene: ti pende verso destra.

[…]

- Che altro?

Eh, altro! Altro! Le mie sopracciglia parevano sugli occhi due accenti circonflessi, ^ ^, le mie orecchie erano attaccate male, una più sporgente dell’altra; e altri difetti…

- Ancora?

Eh si, ancora: nelle mani, al dito mignolo; e nelle gambe (no, storte no!), la destra, un pochino più arcuata dell’altra: verso il ginocchio, un pochino.

Pensava para estas situações, subitamente alertados para a fragilidade do rigor da imagem do nosso eu, o quão tranquilo é, por vezes, vivermos dentro de nós, absolutamente incapazes de nos vermos de fora. Assim, com uma imagem construída de uma observação reflectida, contaminada, ora pelo desejo de ser algo, ora pela força do ego que, nunca sabendo ter o justo tamanho em relação ao que somos, logo exacerba a imagem que fazemos de nós.

Mas como qualquer torre, erigida sobre falsos pretextos, construída pelas nossas mãos de falso profeta daquilo que realmente somos; fragilíssima ideia de eu, destinada a ser derrubada neste momento:

- Credevo ti guardassi da che parte ti pende

Pilar arenoso, soprado ao vento ligeiro do comentário real de quem te viu de fora. Ali onde dói mais, onde a estrutura óssea menos suporta, pior, onde tudo se suporta, sub dimensionada para tal esforço – fomos feitos homens de corpo animal, mas almas que aguentam ser deuses na psicótica tentação de podermos sempre ambicionar mais… até ao ponto de ruptura do corpo físico. Disforme.

*

- Que fazes? – perguntou-me minha mulher, vendo-me insolitamente, demorar defronte do espelho.

- Nada – respondi-lhe, - olho-me aqui, dentro do nariz, nesta narina. Premindo, tenho uma dor.

A minha mulher sorriu e disse:

- Pensava que olhavas de que lado te pende.

Voltei-me como um cão a quem alguém tivesse pisado a cauda:

- Pende-me? A mim? O nariz?

E a minha mulher, placidamente:

- Mas sim, querido. Olha-o bem: pende-te para a direita.

[…]

- Que mais?

Eh, mais! Mais! As minhas sobrancelhas pareciam, sobre os olhos, dois acentos circunflexos,^ ^, as minhas orelhas estavam mal colocadas, uma mais descaída que a outra; e outros defeitos…

- Ainda?

Eh sim, ainda: nas mãos, no dedo mindinho; e nas pernas (não, tortas não!), a direita, um pouco mais arqueada que a outra: em direcção ao joelho, um pouco.

"Uno, nessuno e centomila" Luigi Pirandello

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