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Dizem-me que ponho muito sangue no que escrevo:
Obrigam-me a pensar nas imagens e nos símbolos - e eu não queria ser levado a pensar na semântica daquilo que sinto. Se a espremo para fora de mim é porque não a quero comigo. Se a deixo abandonada fora de mim é para isso mesmo... para que fique abandonada FORA DE MIM.
Se há sangue é porque me espremi expremindo-me e do sangue fiz sumo do que sinto. A minha semântica da dor, monto-a encripticamente em textos, para que se repitam, para que, de cada vez que os ler, ganhem sentido simbólico, fora do eu, para que se descolem de mim e sejam autónomos.
E o tempo, Pai-tempo, panaceia... Sempre corro para encontrar-te, até escrevendo me serves, tempo. Escrever é marcar um momento, uma hora, é dizer um tempo. O que sinto em mim é sempre contemporâneo a mim, o que escrevo do que sinto: não - envelhece, destrói-se e morre.
O que escrevo tem um lugar e tempo preciso e isso permite-me, quando morro de desejo, saber onde estás e fugir na direcção oposta. O texto é o mapa do que me dói e com ele descubro e me dirijo às coordenadas do teu antípoda.
Do sangue que me acusam sempre de escrever?
Revela o meu mal não epidérmico, revela a consitência da minha maldade na espessura das minhas veias.
Assim? Permite-me ver a pasta encarnada que me escrevi, vejo o sangue secar e marcar a passagem do tempo, endurecer: as células morrendo - cada palavra, cada letra. Vejo o tempo a passar no meu sangue e sei que falta menos a doer...
Quando somos maus, sangrar é uma forma de cuspir...
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