...
És como o reflexo deste vidro, imagem projectada de algo ao meu lado, contornos impalpáveis.
És nesse reflexo de vidro, acima de tudo, uma imagem coerente, quase real, mas dolorosamente transparente, sobrepondo-se a toda a paisagem em que escorro a minha vida.
Uma névoa abafadoramente bela que aprisiona o meu olhar: filtro doloso com que quotidianamente observo a vida.
Desespero neste ubíquo ver-te, perene, com que te deifico. Sofro pela epidérmica vizinhança e contemporaneidade da tua imagem, sem carne, sem verbo: muda.
Parto o vidro que se me interpõe ao lá fora para ver-te estilhaçar em lacrimejantes átomos: Ainda te vejo sobreposta ao meu mundo...
Louco arranquei os olhos sem medo, só para que não te visse mais:
- Hoje que vergonha tenho de não ver nada e ainda te ver sobreposta a mim, por dentro, onde vivem as emoções...
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