segunda-feira, maio 08, 2006

Desassossegado li que não é mau desejar a lua, só é mau querer

Desassossegado li que não é mau desejar a lua, só é mau querer o desejo com a mesma intensidade com que queremos aquilo que nos é necessário. Sei que o disse cinicamente. Um homem como ele, morto de desejo, sabe que aquilo que desejamos é aquilo que é nuclearmente necessário. A raiz da sobrevivência do Homem reside na sua ansiedade do desejo, do necessário trata o corpo animal: a alma alimenta-se unicamente do desejo. No dia em que escreveu isso parece-me que desejava essa lua que algumas vezes se agiganta e se atreve a estar à distância de uma mão esticada. Dizer que é mau desejar a lua com tal intensidade que se sobrepõe à vida, é apenas assumir que querê-la tanto dá medo de a poder vir a ter. Ali nas mãos do poeta, o desejo satisfeito não dá azo senão à frustração e depressão: a dor de ter que reinventar o sonho. Ali, nas mãos do homem, a lua não é senão um calhau.

Levanto-me silenciosamente e preparo-me para abandonar o teu corpo nu na cama. Adormecido, por agora, é só músculo: as nossas almas evaporaram-se no suor do desejo a cumprir-se…

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