Porto, Estação de São Bento, dezasseis de Março de dois mil e seis
Hoje vi um homem morto, estirado no chão como se tivesse lá caído. A lógica mandava dizer que tinha sido mexido e arranjado naquela posição, mas dentro da cabeça, na minha imaginação, não parava de correr a imagem dele a cair, charneira nos pés, executando a trajectória que o separava do chão perpendicular num perfeito quarto de círculo. Tinha ainda tudo com ele, carteira, saco, as duas alianças de tantos anos de casado, o fato e os sapatos: faltava-lhe só o sopro de vida, suspirou a alma para lá dos oitenta anos e essa idade disse-a a mulher que o conhecia só de o ver por ali.
Depois chegou uma maca metálica, tétrica, desenhada – senti-o no arrepio – para recolher os corpos dos mortos e o seu sangue arrefecido: em frente à máquina verde pálido para venda automática de bilhetes de comboio era pouco antes das quinze e ele morrera às onze.
em itálico porque já o tinha escrito noutro blog... se calhar é como a feijoada... requentado sabe melhor.
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