
[Lucien Freud]
Decidi deixar-te no limbo e agora afasto-me dessa corda por não ter tido coragem de ir buscar-te à corda suspensa sobre o nada: a corda chamada ambiguidade que balança entre o ser e o não ser.
Alimentei-te no limite da sobrevivência, a água dei-ta só quando o teu corpo ameaçava quebrar fatalmente... Falava-te só o suficiente para te manter acordada, para que não perdesses o último grama de consciência: mas não te falei o que fazíamos ali e nunca soubeste nada das minhas intenções. A cadeira está roçada e sabes apenas que não és a primeira a quem faço isto por mais destrutivo que isso seja para mim.
E enquanto sobrevivias e eu me encarregava disso nunca pudemos desejar realmente porque eu não deixei e porque a ti nunca te perguntei.
Abandonei-te nessa corda entre dois lados e enquanto me ia embora vi-te já quase do lado oposto a salvo: e um dia vamos esquecer o nome um do outro.
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