
[Bruce Nauman - Double Steel Cage Piece]
...
Um a um vão-se desligando de uma rede que fingi suster por malabarismo macabro. Um a um vão-se ligando a redes mais reais, completas, estruturalmente mais densas e capazes. Como se o sumo fingido fosse finalmente descoberto como água impura. Disfarçada...
Seguem-se passos que se afastam e sons que desfazem no espaço, cada vez maior e mais vazio: a única coisa com que consigo encher isto tudo é com a minha voz e o seu eco torto e irritante. Hoje parece aqueles dias em que todos saem de casa e a última coisa que ouves, entre o choro ensurdecedor, é a porta fechar com estrondosa indiferença. Há portas que quando rangem para se fechar se lamentam que fiques sozinho, mas como as pessoas são, as mesmas portas que se lamentam fecham-se para te deixar só. Hipocrisia esse lamento mentiroso, que no final é só mesmo uma forma de se assegurarem que estás só por tua culpa, porque parece que quiseste, e assim se desculpam da sua consciência e da tua enquanto deixam, pela frincha, o trinco fazer o último clique.
Eu só tenho uma porta, como se pôde fechar tantas vezes?
1 comentário:
Lindo!!
Gostei da pergunta final...porque será?
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