
[Christo und Jeanne-Claude - Package]
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Vi uma vez num livro de leis uma tabela que atribuía a cada parte do corpo um preço, para no caso de haver um acidente de trabalho que nos privasse de um membro, se saber quanto se deveria pagar ao acidentado. Não me recordo bem, mas parece-me que até a morte estava neste tétrico preçário.
Seria coisa do mercador de Veneza, pesar a carne como pagamento. Mas a verdade é que, hoje tudo é quantificável em moeda.
E isso torna a carne mais verdadeira não torna? Poder pesá-la assim, dizer-te quanto te custará. E perguntar-te de mim, o que preferes, preços na mão, desconto na ponta da língua: para que não me deixes só - Leve ao menos um quilo de mim!
Se for o quilo certo, onde esteja a passar-se a minha alma, se tivesse assim o destino a meu lado, que no quilo de carne que me levasses estivesse também a minha essência: dormiria o corpo finalmente descansado e tranquilo.
Quando chegares a casa com a minha carne estará um nojo e pronta para deitar fora:
- Eu sei que essa alma que aí levas na carne só me tem apodrecido o corpo.
Desculpa, não se aceitam trocas nem devoluções.
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