segunda-feira, março 17, 2008













[Paula Rego - Metamorfose Segundo Kafka]


Acordamos uma madrugada só para descobrir que algo mudou. Começamos por entender esse fenómeno como um choque súbito, um corte rápido, catastrófico, imediato, que nos deixa atónitos de quão repentinas as mudanças podem ser. Esquecemos, porém, nesse momento em que estamos cheios de espanto, que estivemos adormecidos, como se alguma vez a inconsciência pudesse ser desculpa para a inexistência. E ignorados, assim, de nós próprios, ignoramos também a real e imparável cronometria do mundo, e que, mesmo dormindo, derivámos. Não fomos nós próprios por um momento, que pode ser tão elástico como uma vida inteira, e o mundo lentamente rodou sem que déssemos conta do seu movimento perpétuo. As metamorfoses tomam tempo e não nos transformamos em insecto no momento em que acordamos, mas no movimento do tempo de enquanto dormíamos. Mas despertamos sobressaltados e surpreendidos…

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