Quando sabemos que devemos desistir? A pergunta é na realidade saber quando é que a perseguição de uma coisa que realmente queremos se torna insuportavelmente angustiante ao ponto de nos transtornar a quotidiana vontade de sobreviver. A incerteza de tantos factores deixa-nos por vezes pendurados pela milimétrica linha da esperança, e muitas vezes não desistimos, suspensos por essa transparente linha, que nos deixa nesta condição entalada entre o céu da satisfação e a queda dura na pedra da realidade, da inexistência da concretização do desejo. Quanto devemos apostar na caótica existência que levamos, quanto devemos apostar em nós, sabendo de antemão que tudo isto de viver não passa de um jogo de azar, condicionado pela aparentemente desordenada acumulação de inúmeras variáveis. Quando tudo o que mais apetece é ignorar o curso das coisas e deixar-se estar, entre tudo, sem tocar, sem provocar o mais mínimo distúrbio no sensível líquido da história. Procurar evitar ao custo do sangue, qualquer onda na vida. E assim poder apenas afirmar que não sou culpado de seja o que for, porque não me mexi, porque não criei nada e porque nada subtraí também. Este desejo de dizer, sou neutralidade, invade-me tanto mais quanto sinto a necessidade e urgência de agir e actuar num plano qualquer da minha existência. No momento do risco, da aposta, quero forçar-me a pensar que não devo. E não ajo.
E é nesses momentos que a nossa vida se torna insuportavelmente minúscula. E vomito-me na esperança de me esvaziar.
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